segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O Diário de Daniela.


Uma história:

Menina frágil, que passou a infância conversando sozinha e brincando com amigos imaginários por toda a casa. Claro, também passava muito tempo brincando na rua, descalça, com seu irmão e amigos.

Julie. Esse era o nome da cachorra de seu tio. Todas as vezes que a menina chorava naquele corredor estreito e gelado, Julie ficava ao lado, com o focinho entre as patas, até parecia que chorava junto. Ela também sofria. Até que um dia Julie faleceu, e a menina passou a chorar sozinha, só que com um motivo a mais. Julie fazia falta. Ela compreendia as dores da menina e nunca a deixava sozinha.
Daniela, era o nome da menina.
Daniela adorava escrever, bobagens de fato. E era apaixonada por poemas. Vivia lendo os de sua mãe, que ficavam em um caderno pequeno de capa vermelha. Vivia com aquele caderno pra cima e pra baixo, e os melhores poemas, transcrevia para seu diário. Era algo que provocava diversos efeitos em seu coração. Aquilo a ajudava ver beleza no mundo.

Daniela presenciou muitas brigas, muitas confusões na infância. Tentava amenizar com seus gritos, mas parecia que ninguém a ouvia. Era uma criança, sensível e sonhadora, que pedia à Deus todos os dias para que tudo ficasse bem. Chorava no pé de sua mãe para não deixá-la sozinha. Tinha muito medo. Daniela era sonâmbula, e uma vez, levantou da cama, abriu a janela e gritou: "Mããããe!". Fechou a janela e voltou a dormir.

Conforme o tempo foi passando, passou a ter muito ciúmes, continuava a se sentir sozinha e era cheia de complexos. Para aliviar isso, Daniela se perdeu por um período. Pupilas dilatadas e mãos trêmulas. Aquilo preenchia o vazio. Escrevia todas as suas sensações e cada letra ocupava duas linhas do pequeno caderno de capa vermelha (Igual o de poesias de sua mãe). Período sombrio. Começou a brigar muito com sua mãe. Ninguém de sua família entendia o motivo, apenas ela. Eram brigas feias que sempre acabavam em lágrimas e em uma vontade enorme de morrer. Daniela, desde criança, sentia falta de muitas coisas, e nunca teve uma boa relação com a mãe. Ao contrário de seu pai, que sempre a defendeu. Ela era ligada à ele.

Daniela cresceu, aprendeu, sobreviveu. Hoje é uma moça feliz. Tem vários amigos, passa por momentos ótimos, é formada e trabalha com a escrita, o que sempre gostou de fazer. Não pede nada à Deus, pois desacreditou. Continua muito ligada ao pai, mas infelizmente, a relação com sua mãe continua a mesma, e raramente é chamada de "filha".

Dizia Daniela: "Você só me julga. Respeite o meu dia, eu não estou bem, estou com dor. Respeite isso, por favor." Mas sua mãe parece ter uma necessidade imensa em discutir e colocá-la para baixo. Dizia: "Você não vai conseguir se virar. Eu não estou te julgando, saiba o significado das palavras antes de falar." Daniela, ao ouvir sua mãe batendo as coisas em casa, achou melhor ir para o quarto e continuar sozinha, assim como passou a tarde inteira, para também não piorar a situação, que já estava começando a ficar chata. Mas bateu a porta. Em seguida, alguns chutes e socos na porta fizeram com que Daniela saísse de si. "Para! Para! Me deixa sozinha!", gritava. Sua mãe, sem vontade alguma de terminar aquela confusão, entrou e disse: "Me respeita, não grita, para de histeria. Se você quiser sair daqui pegue tuas coisas e vá". Sua mãe parecia não compreendê-la naquele momento, enquanto a garganta de Daniela já estava rasgando pelos seus gritos. "Me deixa em paz, me deixa sozinha".

Mesmo sangue e duas pessoas completamente diferentes. Qualquer besteira é motivo de discussão.
Enquanto Daniela chorava no quarto, o telefone de sua mãe toca, "Oi filho...", com uma voz serena e acolhedora.

Começou a chover, mas Daniela preferiu não fechar a janela e deixar a chuva entrar. Até que começou a ouvir uma briga na casa ao lado, de duas mulheres: "Cala a boca, não grita." Será que isso nunca vai me deixar em paz? Pensou. Hoje em dia, Daniela tem pavor a brigas.
Faltam apenas 6 meses para Daniela sair daquela casa. Vai doer, ela sabe, mas vai ser melhor.


É difícil para uma pessoa escrever algo tão delicado, algo que há anos a incomoda, a entristece e que a coloca no chão, com os olhos cheio d'água. Mas há uma necessidade tão grande de gritar para o mundo, de ser ouvida e que por mais difícil que seja, essa pessoa acaba escrevendo. Talvez falhe e seja até um erro, mas, a necessidade é tanta que até o português sai errado. Eu, Fernanda, abri o diário de Daniela e, faço o possível para compreendê-la, por mais difícil que seja.

Ah, Daniela também era o nome de sua amiga imaginária. 

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